Sétimo Céu

 

O Primeiro Acto desenvolve-se em África, numa colónia britânica da época vitoriana. Apesar dos ecos que indicam as primeiras lutas dos nativos pela autodeterminação, uma família colonial vive o seu dia-a-dia num ambiente de aparente normalidade.
Clive, o homem branco, impõe os seus ideais à família a aos indígenas : a Betty, sua mulher ( interpretada por um actor, porque ela quer ser o que os homens querem que ela seja) ; a Joshua, o criado preto ( interpretado por um branco pela mesma razão) ; a Edward, o seu filho de oito anos , a quem, por este ter um comportamento feminino (e por isso interpretado por uma mulher) tenta impôr um comportamento masculino.
Esbelecendo um paralelismo entre a opressão colonial e a opressão sexual, Caryl Churchill faz com que Betty, “a esposa submissa” se atire literalmente ao melhor amigo do seu marido, Harry. Este, um homossexual não assumido, tem relações sexuais com o criado preto e desperta em Edward, o filho de Clive, as suas pulsões homossexuais.
Ellen, a governanta, revela que a sua devoção pela patroa não é uma questão de obrigação contratual, mas de atração erótica. Clive, que como não podia deixar de ser, tem uma relação secreta com Mrs. Saunders (a viúva independente), esforça-se por manter o mundo tal como quer continuar a vê-lo.
E, é assim, que, há boa maneira da comédia, o primeiro acto termina com uma festa de casamento. Só que os noivos são; o amigo homossexual e a governata lésbica. E o pacífico criado preto aponta uma arma a Clive enquanto o pano cai.
No Segundo Acto saltamos cem anos, embora nos seja pedido aceitar a convenção de as personagens que vimos no Primeiro Acto só tenham envelhecido vinte e cinco anos.A acção desenrola-se num parque em Londres. Betty (agora interpretada por uma actriz) é uma mulher de meia idade.Libertou-se do marido opressivo e está em pleno processo de divórcio. A filha, Vitória, (que no Primeiro Acto era representada por uma boneca atirada de mão em mão) é casada com Martin, o protótipo do marido “liberal”. O filho Edward (agora interpretado por um actor) é um “gay” assumido que vive com o namorado, Gerry, uma\relação dolorosa, já que este lhe não é fiel e quer manter a sua independência, enquanto ele (Edward), qual esposa submissa, o espera, sofrendo, noites a fio.

Mantendo essencialmente as mesmas personagens, colocadas ostensivamente num mundo diferente, Caryl Churchill demonstra-nos como, acabada a repressão política e os tabus sexuais, a mentalidade subjacente à estrutura familiar se alterou pouco. Nos nossos dias, Vitória, a filha do casal colonialista, acaba a peça partilhando a cama com a amiga lébica, Lin, eo seu próprio irmão, Edward. Os papéis sexuais e sociais podem inverter-se, alterar-se segundo a escolha de cada um, mas, as relações pais-filhos, as relações humanas e amorosas, as relações de poder, mantêm-se incrivelmente semelhantes às da época vitoriana.

intérpretes CLIVE / CATHY ANTÓNIO CORDEIRO | BETTY / EDWARD ROGÉRIO SAMORA | EDWARD / BETTY MARIA HENRIQUE  | MAUD / VITÓRIA PAULA MORA e FERNANDA LAPA | ELLEN / MRS. SAUNDERS / LIN ISABEL MEDINA | HARRY / MARTIN RICARDO CARRIÇO | CRIADO PRETO / GERRY LUIS CASTRO
canção “SÉTIMO CÉU”: MANUEL JOÃO VIEIRA

de CARYL CHURCHILL
tradução PAULO EDUARDO CARVALHO
encenação FERNANDA LAPA
cenografia ANA VAZ
figurinos MARIA GONZAGA
música original JOÃO LUCAS
esculturas de cena CARLOS MATOS
movimento MARTA LAPA
desenho de luz ISABEL ABOIM
assistente de encenação CARLOTA OLIVA
coprodução ESCOLA DE MULHERES | TEATRO NACIONAL D. MARIA II

Teatro Villaret, Lisboa
de 14 novembro a 14 desembro, 1997
Teatro Carlos Alberto, Porto
Reposição de 13 a 15 Fevereiro, 1998