Desejos Brutais

Em Desejos Brutais, a personagem feminina, Charlene, é uma mulher forte, uma profissional bem sucedida e feminista que obteve uma providência cautelar contra o marido que a agredira durante anos.
Ao computador, Charlene escreve guiões eróticos para uma companhia cinematográfica feminista. É assim que consegue viver sem preocupações, sustentando os dois filhos, uma rapariga e um rapaz, e conservando a sua independência. No entanto, os desequilíbrios determinados pela sua condição de mulher (o papel de mulher independente entra em conflito com o de mãe e esposa), tornam-na vulnerável à violência. O ex-marido arromba a porta da casa, manipula os seus sentimentos apelando à compaixão, utiliza a imaturidade dos filhos a seu favor, e acaba por matá-la.
Antes de ser assassinada, Charlene cria dois personagens para o guião que escreve, enquanto se desenrola a acção da peça: uma mulher dominadora e o seu companheiro submisso. Mas, mais tarde, pouco antes de ser morta, um grupo de homens inverte os papéis e transforma a história num filme cor-de-rosa.
Paula Vogel não dá muitas esperanças às mulheres neste texto divertido, mas negro, a não ser no seu assustador final, quando a filha de Charlene aparece de meias até ao joelho, camisa de flanela, sobretudo e botas pesadas, evidenciando, dessa forma, que não é um objecto sexual, e toma o lugar da mãe ao computador. Então começa a escrever a peça que acabámos de ver, a única maneira que ela encontra para chamar a atenção das pessoas e tentar transformá-las.
Um texto belíssimo, com um feroz poder teatral, divertido e corrosivo, que trata a violência doméstica sem hipocrisia nem subterfúgios.

intérpretes MANUELA COUTO (Mãe) | MARIA HENRIQUE (Voz) | DINA LOPES (Filha) | ROGÉRIO SAMORA (Pai) | AMADEU NEVES (Voz) | MANUEL MOREIRA (Filho)

autoria PAULA VOGEL
tradução ISABEL MEDINA | LÍGIA HOLLY
encenação FERNANDA LAPA
cenografia ANA VAZ
coreografia e figurinos MARTA LAPA
música JOÃO LUCAS
desenho de luz CARLOS ASSÍS
fotografia de cena MARGARIDA DIAS

Sala Estúdio Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro
Teatro Nacional D. Maria II
de 1 a 30 de Novembro, 2003