
Na derradeira peça de Bernardo Santareno (1980), O Punho, o motor central da ação é a luta de classes no contexto da Reforma Agrária no Alentejo. As duas personagens principais – a camponesa Maria do Sacramento e a latifundiária D. Mafalda são, simultaneamente, protagonistas e antagonistas. Duas mulheres fortíssimas em lados opostos da barricada e que são das mais belas e comoventes personagens do teatro português.
A ação passa-se no antes, durante e depois da Reforma Agrária – 3 anos. Este período marcante e fraturante da história de Portugal dos anos 70 e que, atualmente, quase se tornou um tabu, é aqui transposta para a cena teatral sem maniqueísmos, ressalvando a humanidade das personagens levadas a agir pelo seu sentido de classe, pelo sofrimento e pelos afetos.
Um Coro trágico vai sublinhando ou suscitando a ação à maneira dos Gregos.
Ficha técnica e artística
Texto a partir de “O Punho” de Bernardo Santareno
Versão cénica Fernanda Lapa
Direção artística Marta Lapa e Ruy Malheiro
Espaço cénico Fernanda Lapa, Marta Lapa e Ruy Malheiro
Figurinos Coletivos
Música Janita Salomé
Desenho de luz Paulo Santos
Intérpretes e cocriadores: Maria d’Aires, Margarida Cardeal, André Levy, Marta Lapa, Vitor Alves da Silva, André Leitão, Hugo Nicholson e Ruy Malheiro
Execução cenográfica (seara de trigo) Marta Fernandes da Silva
Fotografia de cena Valério Romão
Registo e edição vídeo José Manuel Marques
Design gráfico OC Design
Operação técnica Sofia Costa
Assistência de cenografia Sabrina Martinho e Yvette Barthels
Direção de produção e comunicação Ruy Malheiro
Produção Executiva Telma Grova | Inês Matos
Apoios
SPA – Sociedade Portuguesa de Autores | AGECOP – Associação para a Gestão da Cópia Privada
Câmara Municipal de Lisboa
MDM – Movimento Democrático de Mulheres
PCP – Partido Comunista Português
Agradecimentos
Sandra Benfica, Sérgio Moras, Ricardo Trindade, Maria da Luz Cruz, Miguel Soares, José Anjos
M/14
69ª produção Escola de Mulheres
Espetáculo inserido nas Comemorações Nacionais do Centenário de Bernardo Santareno.
Estreia a 19 de novembro de 2020
espaço Escola de Mulheres – Sala de Teatro do Clube Estefânia
temporada: 19 de novembro a 18 de dezembro 2020
Reposição no âmbito do Programa Garantir Cultura
15 a 21 de novembro de 2021
Sala de Teatro do Clube Estefânia
circulação:
22 de abril de 2021 – Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal
5 de setembro de 2021 – Cine-teatro Marques Duque em Mértola
4 de março de 2022 – Teatro Sá da Bandeira – Santarém
18 de novembro de 2022 – Cine-Teatro São Pedro – Alcanena












©Valério Romão 2020
Sobre o espetáculo
O espetáculo, O PUNHO, a partir da obra homónima de Bernardo Santareno é a última produção de 2020 da Escola de Mulheres, aquela que é, também, a última versão cénica com assinatura de Fernanda Lapa (1943-2020).
Nesta adaptação dramatúrgica da obra inédita, publicada postumamente em 1987, Fernanda Lapa destaca as personagens centrais, D. Mafalda e Maria do Sacramento, eliminando algumas personagens secundárias, cujo contributo não compromete a ação central deste drama. Os atores intervenientes desdobram-se entre a interpretação de personagens e a integração do Coro, que neste espetáculo sublinha, suscita e entrega as cenas à maneira dos Gregos. A registar ainda a introdução de uma personagem inexistente no texto original, o narrador, que contextualiza a cena num discurso assumidamente político, reflexo da postura que Fernanda Lapa sempre assumiu ao longo da sua vida.
Levar este texto à cena torna-se para nós imperativo, não só por ser a última obra de Santareno e por ser a encenação que Fernanda Lapa queria ter estreado na data do Centenário do nascimento do dramaturgo, mas também pela sua pertinência e atualidade.
Trata-se de uma obra sobre um período específico da nossa história recente, a Reforma Agrária, sobre o qual muito pouco se sabe ou divulga, sendo tratado quase como tabu. Um texto absolutamente atual, que retrata um Alentejo, à época, de terras abandonadas, desemprego, miséria e fome e com umas poucas centenas de grandes latifundiários que exploravam os trabalhadores agrícolas. Realidade não muito diferente do que hoje se vive, com a introdução das culturas intensivas e recurso a mão de obra barata, na sua grande maioria de emigrantes, em condições de vida absolutamente miseráveis.
Este é um espetáculo/ homenagem a Fernanda Lapa.
Marta Lapa e Ruy Malheiro