Uma Boca Cheia de Pássaros

O tema da obra é, simultaneamente, o da possessão e da violência das mulheres, temas que surgem juntos em As Bacantes de Eurípides.
Um dos interesses iniciais de Caryl Churchil era o de contrariar a visão tradicional das mulheres como mais pacíficas e dos homens como naturalmente mais violentos.
A outra ideia explorada é a de ‘um dia sem defesas’ e também aqui o texto de Eurípides surge como paradigmático.
‘Ir para além das palavras’ foi a proposta feita por Churchill a David Lan, aos intérpretes e ao coreógrafo que colaboraram no work-shop preparatório do espectáculo inglês. A vontade de experimentar o movimento e a dança como vias possíveis para dar forma concreta ao subconsciente já tinha sido ensaiada em produções anteriores (Fen), e continuou a ser explorada  mais tarde (Fugue e Lives of the Great Poisoners).
O trabalho de toda a equipa inglesa envolveu: o contacto com pessoas com capacidades mediúnicas, com um transsexual, um padre anglicano exorcista, pessoas que tinham estado presas devido a actos de violência, experiências de hipnotismo, visitas a espectáculos de travesti e de srtip masculino, dias a viver e a dormir ao ar livre.
Uma Boca Cheia de Pássarosacabou por tomar a forma de sete histórias de sete pessoas que interrompem as suas vidas habituais para viverem “dias sem defesas”, as principais cenas da peça, durante as quais cada uma das personagens é possuída por um espírito ou uma paixão. Estes episódios são pontuados pela presença do terrível assassíneo que nos é contado em As Bacantes como algo que irrompe do passado em direcção a estas pessoas abertas à possessão.Subjugadas por forças irracionais esmagadoras, elas vivem uma expriência súbita que as transporta para outra dimensão. Nada é fixo nem estático, e como o andrógino deus Diónisos, também a identidade sexual é fluida.
Caryl Churchill rejeita assumidamente a linearidade estrutural, articulando audaciosamente os textos visuais e físicos com as sequências verbais , explorando os territórios das fantasias, dos desejos subconscientes e dos sonhos. A presença tutelar de Diónisos, como epítome das energias fluidas e transformadoras, funciona como metáfora eloquente do poder transformador do teatro.

intérpretes
PAULO / DIÓNISOS / HOMEM1 E HOMEM NA CADEIRA IVO CANELAS | LENA / SOGRA / GUARDA PRISIONAL / MÃE DE IVONE E BACANTE 3 SÃO JOSÉ LAPA | TADEU / CARLOS / EDUARDO / PENTEU / MUSICÓLOGO / GUARDA PRISIONAL / AMIGO E TÓ PAULO PINTO | IVONE / ESPÍRITO / MULHER 2 / DÉCIMA / PORCO / BACANTE 2 E LIA MARTA LAPA| DANIEL / RUI / SR.MADEIRA / HOMEM2 / COLEGA / IVO E DIÓNISOS 2 ANTÓNIO RAMA | MÁRCIA / MULHER 3 / JÚLIA / BACANTE 1 / MULHER A E SUSI  FÁTIMA BELO | DORA / MULHER 1 / AGAVE / SIBILA / COLEGA / HERCULINE BARBIN E MULHER B  MARIA HENRIQUE


tradução PAULO EDUARDO CARVALHO
encenação FERNANDA LAPA | FRANCISCO CAMACHO
cenografia ANA VAZ
desenho de luz DANIEL WORM D’ASSUMPÇÃO
figurinos MARIA GONZAGA
música CARLOS ZÍNGARO
spot PEDRO SENA NUNES
desenho do programa e do cartaz NUNO CARINHAS
fotos FREDERICO NS
penteados VÍTOR HUGO
produção executiva TERESA COUTO PINTO
execução e montagem do cenário MANUEL VITÓRIA
coordenação técnica da montagem do cenário FERNANDO VAZ
produção ESCOLA DE MULHERES


Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II
de 6 a 29 de Novembro, 1998